09 de Novembro de 2018

Uma em cada quatro mulheres não tem acesso adequado à água tratada, coleta e tratamento dos esgotos, tendo, a falta de saneamento básico, impactos negativos para toda a sociedade, além de reforçar a desigualdade de gênero no Brasil. Essas são conclusões do estudo inédito “O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira”, feito pela BRK Ambiental em parceria com o Instituto Trata Brasil e apoio do Pacto Global.
 
O estudo revela que o acesso a água e esgoto tiraria imediatamente 635 mil mulheres da pobreza, a maior parte delas negras e jovens. “O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira” tomou como base dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos Ministérios da Saúde, Educação e Cidades. A metodologia completa pode ser conferida em www.tratabrasil.org.br.
 
Hoje, no país, 27 milhões de mulheres não têm acesso adequado à infraestrutura sanitária, sendo o saneamento variável determinante em saúde, educação, renda e bem-estar. Os números mostram ainda que a falta de acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário é uma das principais causas de incidência de doenças diarreicas, que levam as mulheres a se afastarem 3,5 dias por ano, em média, de suas atividades rotineiras. O afastamento por esses problemas de saúde afeta principalmente o tempo destinado a descanso, lazer e atividades pessoais.
 
Meninas de até 14 anos são as maiores vítimas desse quadro, com índice de afastamento por diarreia 76% maior que a média em outras idades (132,5 casos de afastamento por mil mulheres contra 76). Já no caso da mortalidade, o déficit de saneamento é mais perigoso para a mulher idosa, que corresponderam a 73,7% das mortes entre as mulheres sem acesso ao saneamento.
 
O economista Fernando Garcia de Freitas, responsável pela pesquisa, lembra que quando há falta de água em casa ou quando alguém da família adoece em decorrência da falta de saneamento, em geral a rotina das mulheres é mais afetada – o impacto desses problemas no tempo produtivo delas é 10% maior que o dos homens.  “Temos um retrato evidente de como a falta de água e esgoto impacta a criança, a jovem, a trabalhadora, mãe e a idosa, impedindo a melhoria de vida e aprofundando as desigualdades”.
 
Teresa Vernaglia, presidente da BRK Ambiental, destaca que a pesquisa mostra a dupla jornada da maior parte das mulheres no Brasil e o peso que a falta de saneamento tem nessa rotina. “No Brasil é a mulher que cuida dos afazeres domésticos. É ela quem cozinha e é quem se ausenta do trabalho para levar o filho no posto de saúde. Portanto, a falta de saneamento afeta diretamente a sua vida em diversas esferas, com impactos inclusive na sua mobilidade socioeconômica”, afirma.
 
Ainda de acordo com Teresa Vernaglia, são informações impactantes dada a importância da autonomia financeira para a igualdade de gênero e para o empoderamento da mulher, previstos no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 da Agenda 2030 da ONU. “Parte da transformação dessa realidade depende de investimentos e do compromisso das empresas com a universalização de água e esgoto”, completa a presidente da BRK Ambiental.


 
O exemplo quem vem de Cachoeiro

Diferentemente da maioria dos municípios brasileiros, Cachoeiro de Itapemirim, que em 1998 firmou contrato de concessão dos serviços de saneamento básico com a iniciativa privada, teve sua realidade modificada, transformando-se em referência nacional. Há 20 anos, o município contava com apenas 5% do esgoto tratado, hoje, possui 98,40% do esgoto coletado, dos quais 98,15% são tratados. O abastecimento de água potável de qualidade chega atualmente para 99,60% da população. 
Para atingir números tão relevantes e contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos moradores, em duas décadas a iniciativa privada investiu R$ 213,8 milhões na modernização e ampliação do Sistema de Abastecimento de Água e do Sistema de Esgotamento Sanitário no município.
O resultado de todo este investimento é percebido pela população. Moradora do bairro Aeroporto, a cozinheira Maria Aparecida Verly, de 49 anos, conta que antes da instalação da rede de coleta, o esgoto ficava em frente à porta de sua casa, tendo, sua família, de conviver com mau cheiro e mosquitos.
 
“Como faço comida para vender, esses problemas afetavam bastante a minha rotina, porque na hora de cozinhar o vento levava o odor todo para dentro de casa. Às vezes, o cliente parava o carro em frente e eu me apressava para levar a encomenda até ele, evitando que entrasse na minha casa. Para mim, a rede de esgoto foi a melhor coisa que aconteceu, pois não tenho que lidar mais com aqueles incômodos”, afirma.
 
A pensionista Tereza Voltasso, de 54 anos, moradora do distrito de Coutinho, também percebe os benefícios do saneamento básico. A estação de tratamento de esgoto construída em 2015 permitiu que o córrego próximo à sua casa deixasse de receber esgoto in natura. “Faz 30 anos que moro em Coutinho e convivi por muito tempo com o mau cheiro que atrapalhava na hora de preparar o almoço e me alimentar. Com o córrego poluído, muitos peixes também morriam, sem falar da quantidade de mosquito, que não nos deixava dormir bem”, afirma.
 
O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), lançado em 2013 pelo Governo Federal, prevê alcançar a universalização do abastecimento de água e da coleta e tratamento de esgoto até 2033, mas o país não tem conseguido investir o suficiente nos últimos 11 anos. Para cumprir esta meta, estudos do setor mostram que o Brasil necessitaria de investimentos da ordem de R$ 20 bilhões por ano contra os R$ 11,5 bilhões investidos em 2016.